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quinta-feira, 2 de junho de 2011

FORÇA ESTRANHA ___ CAETANO VELOSO

Força Estranha
(Caetano Veloso)
Eu vi o menino correndo eu vi o tempo
Brincando ao redor do caminho daquele menino
Eu pus os meus pés no riacho
E acho que nunca os tirei
O sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei

Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo não pára pr'eu olhar para aquela barriga
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou

| Por isso uma força me leva a cantar
| Por isso essa força estranha
| Por isso é que eu canto não posso parar
| Por isso essa voz tamanha

Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista
O tempo não pára e no entanto ele nunca envelhece
Aquele que conhece o jogo
Do fogo das coisas que são
É o sol
É a estrada
É o tempo
É o pé
E é o chão
Eu vi muitos homens brigando ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta
E a coisa mais certa de todas as coisas
Não vale um caminho sob o sol
E o sol sobre a estrada
É o sol sobre a estrada
É o sol

quarta-feira, 1 de junho de 2011

HOMENAGEM AOS MEUS AMIGOS DE PORTUGAL


Estou atravessando uma fase "portuguesa de ser",com lembranças de minha vovó,de meu bisavô tão lindo,me incentivando a fazer artes e dizendo"esta menina é da pá virada!"E,qual não foi a minha surpresa.quando,ao ligar a TV de manhãzinha,deparo com nada mais, nada menos,que Tereza Salgueiro,a voz delicada de Portugal!!!Escutei a entrevista embevecida,pois ela,além de cantar como um rouxinol,ainda é uma pessoa antenada com o seu tempo,com as necessidades do povo e dotada de uma sensibilidade enternecedora.                          

Percurso Musical
A sua carreira iniciou-se inesperadamente, em 1986, quando dois dos fundadores do grupo (Rodrigo Leão e Gabriel Gomes) a descobriram quando cantava com um grupo de amigos numa mesa ao lado da deles, numa tasca do Bairro Alto, em Lisboa. Depois da sua primeira audição com Pedro Ayres Magalhães, outro dos fundadores do Madredeus, Teresa Salgueiro passou a ser a voz e, nas palavras de Magalhães, "a maior inspiração da música do grupo".
Teresa Salgueiro é uma soprano de vasta extensão vocal, tendo um talento inato para a música. Pode dizer-se que sua voz apesar de ter amadurecido continua a ter características típicas de uma soprano sobrette, pouca intensidade, doçura e agilidade. Sua formação musical deu-se ao longo dos primeiros anos de vida do Madredeus, quando cursou por dois anos aulas de canto, mas os compromissos internacionais do grupo acabaram por impedir que a cantora prosseguisse com uma educação musical formal.

Teresa Salgueiro - 'Se todos fossem iguais a você'

terça-feira, 31 de maio de 2011

SALMO 23


Salmo 23


[Salmo de Davi] O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas.
Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do SENHOR por longos dias.


segunda-feira, 30 de maio de 2011

LEMBRANÇAS DE INFÂNCIA

ÚLTIMA CORRIDA DE TOUROS EM SALVATERRA
.
Correram-se as cortinas da tribuna real. Rompem as músicas. Chegou el-rei, e logo depois entra pelos camarotes o vistoso cortejo, e vê-se ondear um oceano de cabeças e de plumas. Na praça ressoam com brava alegria as trombetas, as charamelas e os timbales. Aparecem os cavaleiros, fidalgos distintos, todos, com o conto das lanças nos estribos, e os brasões bordados no veludo das gualdrapas dos cavalos. As plumas dos chapéus debruçam-se em matizados cocares; e as espadas em bainhas lavradas pendem de soberbos talins. Os capinhas e os forcados vestem com garbo à castelhana antiga. No semblante de todos brilha o ardor e o entusiasmo.
O conde dos Arcos, entre os cavaleiros, era quem dava mais na vista. O seu trajo, cortado à moda da corte de Luís XV, de veludo preto, fazia realçar a elegância do corpo. Na gola da capa e no corpete, sobressaíam as finas rendas da gravata e dos punhos. Nos joelhos, as ligas bordadas deixavam escapar com artifício os tufos de cambraieta alvíssima. O conde não excedia a estatura ordinária, mas, esbelto e proporcionado, todos os seus movimentos eram graciosos. As faces eram talvez pálidas de mais, porém animadas de grande expressão, e o fulgor das pupilas negras fuzilava tão vivo e, por vezes, tão recobrado, que se tornava irresistível. Filho do marquês de Marialva e discípulo querido de seu pai, o melhor cavaleiro de Portugal, e talvez da Europa, a cavalo, a nobreza e a naturalidade do seu porte enlevavam os olhos. Ele e o corcel, como que ajustados em uma só peça, realizavam a imagem do centauro antigo.
A bizarria com que percorreu a praça, domando sem esforço o fogoso corcel arrancou prolongados e repetidos aplausos. Na terceira volta, obrigando o cavalo quase a ajoelhar diante de um camarote, fez que uma dama escondesse turvada no lenço as rosas vivíssimas do rosto, que decerto descobririam o melindroso segredo da sua alma, se, em momentos rápidos como o faiscar do relâmpago, pudesse alguém adivinhar o que só dois sabiam.
El-rei, quando o mancebo o cumprimentou pela última vez, sorriu-se, e disse voltando-se:
— Porque virá o conde quase de luto à festa?
Principiou o combate.
Não é propósito nosso descrevermos uma corrida de touros. Todos têm assistido a ela, e sabem de memória o que o espectáculo oferece de notável. Diremos só que a raça dos bois era apurada, e que os touros se corriam desembolados, à espanhola. Nada diminuía, portanto, as probabilidades do perigo e a poesia da luta.
Tinham-se picado alguns bois. Abriu-se de novo a porta do curro, e um touro preto investiu com a praça. Era um verdadeiro boi de circo. Armas compridas e reviradas nas pontas, pernas delgadas e nervosas, indicio de grande ligeireza, e movimentos rápidos e súbitos, sinal de força prodigiosa. Apenas locara o centro da praça, estacou como deslumbrado, sacudiu a fronte e, escarvando a terra, impaciente, soltou um mugido feroz no meio do silêncio que sucedera às palmas e gritos dos espectadores. Dentro em pouco, os capinhas, salvando a pulos as trincheiras, fugiam à velocidade espantosa do animal, e dois ou três cavalos expirantes denunciavam a sua fúria.
Nenhum dos cavaleiros se atreveu a sair contra ele. Fez-se uma pausa. O touro pisava a arena ameaçador e parecia desafiar em vão um contendor. De repente, viu-se o conde dos Arcos, firme na sela, provocar o ímpeto da fera, e a haste flexível do rojão ranger e estalar, embebendo o ferro no pescoço musculoso do boi. Um rugido tremendo, uma aclamação imensa do anfiteatro inteiro, e as vozes triunfais das trombetas e charamelas encerraram esta sorte brilhante. Quando o nobre mancebo passou a galope por baixo do camarote, diante do qual pouco antes fizera ajoelhar o cavalo, a mão alva e breve de uma dama deixou cair uma rosa, e o conde, curvando-se com donaire sobre os arções, apanhou a flor do chão, sem afrouxar a carreira, levou-a aos lábios e meteu-a no peito. Investindo depois com o touro tornado imóvel com a raiva concentrada, rodeou-o estreitando em volta dele os círculos, até chegar quase a pôr-lhe a mão na anca.
O mancebo desprezava o perigo e, pago até da morte pelos sorrisos que seus olhos furtavam de longe, levou o arrojo a arrepiar a testa do touro com a ponta da lança. Precipitou-se então o animal com fúria cega e irresistível. O cavalo baqueou trespassado, e o cavaleiro, ferido na perna, não pôde levantar-se. Voltando sobre ele, o boi, enraivecido, arremessou-o aos ares, esperou-lhe a queda nas armas e não se arredou senão quando, assentando-lhe as patas sobre o peito, conheceu que o seu inimigo era um cadáver.
Este doloroso lance ocorreu com a velocidade do raio. Estava já consumada a tragédia, e não havia expirado ainda o eco dos últimos aplausos.
De repente, um silêncio em que se conglobavam milhares de agonias, emudeceu o circo. Rei, vassalos e damas, meio corpo fora dos camarotes, fitavam a praça sem respirar, e erguiam logo depois a vista ao céu, como para seguir a alma que para lá voava envolta em sangue.
Quando o mancebo, dobado no ar, exalava a vida antes de tocar o chão, um gemido agudo, composto de soluços e choro, caiu sobre o cadáver como uma lágrima de fogo. Uma dama, desmaiada nos braços de outras senhoras, soltara aquele grito estridente, derradeiro ai do coração ao rebentar no peito.
El-rei D. José, com as mãos no rosto, parecia petrificado.
A corte, desta vez, acompanhava-o sinceramente na sua dor.
Mas o drama ainda não tinha concluído. Quem sabe?! O terror e a piedade iam cortar de novas mágoas o peito a todos.
O marquês de Marialva assistira a tudo do seu lugar. Revendo-se na gentileza do filho, seus olhos seguiam-lhe os movimentos, brilhando radiosos a cada sorte feliz. Logo que entrou o touro preto, carregou-se de uma nuvem o semblante do ancião. Quando o conde dos Arcos saiu a farpeá-lo, as feições do pai contraíram-se e a sua vista não se despregou mais da arriscada luta.
De repente, o velho soltou um grito sufocado e cobriu os olhos, apertando depois as mãos na cabeça. Os seus receios haviam-se realizado. Cavalo e cavaleiro rolavam na arena, e a esperança pendia de um fio ténue! Cortou-lho rapidamente a morte, e o marquês, perdido o filho, luz da sua alma e ufania de suas cãs, não proferiu uma palavra, não derramou uma lágrima; mas os joelhos fugiam-lhe trémulos, e a elevada estatura inclinou-se, vergando ao peso da mágoa excruciante.
Volveu, porém, em si, decorridos momentos. A lívida palidez do rosto tingiu-se de vermelhidão febril, subitamente. Os cabelos desgrenhados e hirtos revolveram-se-lhe na fronte inundada de suor frio como as sedas da juba de um leão irritado. Nos olhos amortecidos faiscou, instantâneo mas terrível, o sombrio clarão de uma cólera em que todas as ânsias insofridas da vingança se acumulavam.
Em um ímpeto, a presença reassumiu as proporções majestosas e erectas, como se lhe corresse nas veias o sangue do mancebo que perdera. Levando por acto instintivo a mão ao lado, para arrancar a espada, meneou tristemente a cabeça. A sua boa espada cingira-a ele ao próprio filho, neste dia que se convertera para a sua casa em dia de eterno luto!
Sem querer ouvir nada, desceu os degraus do anfiteatro, seguro e resoluto, como se as neves de setenta anos lhe não branqueassem a cabeça.
— Sua Majestade ordena ao marquês de Marialva que aguarde as suas ordens disse um camarista, detendo-o pelo braço.
O velho fidalgo estremeceu, como se acordasse sobressaltado, e cravou no interlocutor os olhos desvairados, em que reluzia o fulgor concentrado de um pensamento imutável. Desviando depois a mão que o suspendia, baixou mais dois degraus.
— Sua Majestade entende que este dia foi já bastante desgraçado e não quer perder nele dois vassalos... O marquês desobedece às ordens de el-rei?!...
— El-rei manda nos vivos, e eu vou morrer! — atalhou o ancião em voz áspera, mas sumida. — Aquele é o corpo de meu filho! — e apontava para o cadáver. «Está ali! Sua Majestade pode tudo, menos desarmar o braço do pai, menos desonrar os cabelos brancos do criado que o serve há tantos anos. Deixe-me passar, e diga isto».
D. José vira o marquês levantar-se e percebera a sua resolução. Amava no estribeiro-mor as virtudes e a lealdade nunca desmentidas. Sabia que da sua boca não ouvia senão a verdade, e a ideia de o perder assim era-lhe insuportável. Apenas lhe constou que ele não acedia à sua vontade, fez-se branco, cerrou os dentes convulso e, debruçado para fora da tribuna, aguardou em ansioso silêncio o desfecho da catástrofe.
A esse tempo já o marquês pisava a praça, firme e intrépido, como os antigos Romanos diante da morte. Dentro do peito o seu coração chorava, mas os olhos áridos queimavam as lágrimas, quando subiam a rebentar por eles. Primeiro do que tudo queria a vingança.
Por impulso instantâneo, todo o ajuntamento se pôs de pé. Os semblantes consternados e os olhos arrasados de água exprimiam aquela dolorosa contenção do espírito, em que um sentido parece concentrar todos.
Deixai-o ir, ao velho fidalgo! A mágoa que o trespassa não tem igual. O fogo, que lhe presta vida e forças, é a desesperação. Deixai-o ir, e de joelhos!: Saudai a majestade do infortúnio!
O pai angustiado ajoelhou junto do corpo do filho e pousou-lhe um ósculo na fronte. Desabrochou-lhe depois o talim e cingiu-o, levantou-lhe do chão a espada e correu-lhe a vista pelo fio e pela ponta de dois gumes. Passou depois a capa no braço e cobriu-se. Decorridos instantes, estava no meio da praça e devorava o touro com a vista chamejante, provocando-o para o combate.
Cortado de comoções tão cruéis, não lhe tremia o braço, e os pés arreigavam-se na arena, como se um poder oculto e superior lhos tivesse ligado repentinamente à terra.
Fez-se no circo um silêncio gélido, tremendo e tão profundo, que poderiam ouvir-se até as pulsações do coração do marquês, se naquela alma de bronze o coração valesse mais do que a vontade.
O touro arremete contra ele... Uma e muitas vezes o investe cego e irado, mas a destreza do marquês esquiva sempre a pancada.
Os ilhais da fera arfam de fadiga, a espuma franja-lhe a boca, as pernas vergam e resvalam, e os olhos amortecem de cansaço. O ancião zomba da sua fúria. Calculando as distâncias, frustra-lhe todos os golpes sem recuar um passo.
O combate demora-se.
A vida dos espectadores resume-se nos olhos.
Nenhum ousa desviar a vista de cima da praça.
A imensidade da catástrofe imobiliza todos.
De súbito, solta el-rei um grito e recolhe-se para dentro da tribuna. O velho aparava, a peito descoberto, a marrada do touro, e quase todos ajoelharam para rezarem por alma do último marquês de Marialva.
A aflitiva pausa apenas durou momentos. Por entre as névoas de que a pupila trémula se embaciava, viu-se o homem crescer para a fera, a espada fuzilar nos ares e, logo após, sumir-se até aos copos entre a nuca do animal. Um bramido, que atroou o circo, e o baque do corpo agigantado na arena encerraram o extremo acto do funesto drama.
Clamores uníssonos saudaram a vitória. O marquês, que tinha dobrado o joelho com a força do golpe, levantava-se mais branco do que um cadáver. Sem fazer caso dos que o rodeavam, tornou a abraçar-se com o corpo do filho, banhando-o de lágrimas e cobrindo-o de beijos.
O touro ergueu-se e, cambaleando com a sezão da morte, veio apalpar o sítio onde queria expirar. Ajuntou ali os membros, e deixou-se cair sem vida ao lado do cavalo do conde dos Arcos.
Nesse momento os espectadores, olhando para a tribuna real, estremeceram. El-rei, de pé e muito pálido, tinha junto de si o marquês de Pombal coberto de pó e com sinais de ter viajado depressa.
Sebastião José de Carvalho voltava de propósito as costas à praça, falando com o monarca. Punia assim a barbaridade do circo.
— Temos guerra com a Espanha, Senhor. É inevitável. Vossa Majestade não pode consentir que os touros lhe matem o tempo e os vassalos! Se continuássemos neste caminho... cedo iria Portugal à vela.
— Foi a última corrida, marquês. A morte do conde dos Arcos acabou com os touros reais, enquanto eu reinar.
— Assim o espero da sabedoria de Vossa Majestade. Não há tanta gente nos seus reinos, que possa dar-se um homem por um touro. El-rei consente que vá em seu nome consolar o marquês de Marialva?
— Vá! É pai. Sabe o que há-de dizer-lhe...
— O mesmo que ele me diria a mim, se Henrique estivesse como está o conde. El-rei saiu da tribuna, e o marquês de Pombal, entrando na praça em toda a majestade da sua elevada estatura, levantou nos braços o velho fidalgo, dizendo-lhe com voz meiga e triste:
— Senhor marquês! Os Portugueses como vossa excelência são para dar exemplos de grandeza d'alma e não para os receberem. Tinha um filho e Deus levou-lho. Altos juízos Seus. A Espanha declara-nos guerra, e el-rei, meu amo e meu senhor, precisa do conselho e da espada de vossa excelência.
E travando-lhe da mão, levou-o quase nos braços, até o meterem na carruagem. D. José I cumpriu a palavra dada ao seu ministro. No seu remado nunca mais se picaram touros em Salvaterra.



ORFANDADE


(*Adélia Prado e seu belíssimo"Orfandade": Meu Deus,me dá cinco anos.Me dá um pé de fedegoso com formiga preta, me dá um Natal e sua véspera, o ressonar das pessoas no quartinho. Me dá a negrinha Fia pra eu brincar, me dá uma noite pra eu dormir com minha mãe. Me dá minha mãe, alegria sã e medo remediável,me dá a mão, me cura de ser grande,ó meu Deus, meu pai,meu pai.)